Em tempos de crise e tensão ressurge entre os adventistas um interesse sobre os eventos finais, tema esse que deveria ser objeto contínuo de cuidadosa reflexão, pois Ellen White, mensageira e co-fundadora da Igreja Adventista, recomendou: “Deve-se fazer um grande esforço para manter este assunto perante o povo”. Em situações ameaçadoras surgem alusões escatológicas de todos os perfis, e entre elas, as que exortam o abandono imediato das grandes cidades. O que existe revelado sobre essa questão nos escritos inspirados deixados por ela é o que será considerado neste artigo.
Denis Fortin, um dos editores da Enciclopédia Ellen G. White, menciona os argumentos principais em torno dos quais giram os apelos de Ellen White para as famílias adventistas mudarem para áreas rurais, conforme citações encontradas no livro Vida no Campo. Ele afirma que a maioria desses conselhos foram escritos entre 1890 e 1910 e tiveram como objetivo incentivar um estilo de vida mais simples, o desenvolvimento do caráter e a obtenção de melhor saúde física, mental e espiritual.
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Uma abordagem consciente desse tema deve levar em conta pelo menos quatro aspectos: 1) As vantagens e desafios de se mudar para o campo; 2) a orientação escatológica para sair das grandes cidades e o decreto dominical; 3) o tempo para vender propriedades e 4) o compromisso da Igreja Adventista com os grandes centros.
Vantagens e desafios de se mudar para o campo
É inegável o conjunto de recomendações e razões deixadas para que os adventistas do sétimo dia possam optar por viver junto à natureza. Ellen White escreveu sobre isso em várias ocasiões e esses conselhos estão registrados em muitos de seus livros, e guardam estreita relação com a proposta de um estilo de vida saudável.
Além dos perigos e riscos de viver nas cidades grandes, destacam-se muitas vantagens de uma vida no campo. Algumas delas são: 1) Proporciona melhor ambiente para a família e para a educação dos filhos; 2) gera oportunidade para uma vida mais espiritual e missionária; 3) permite afastar-se dos elementos nocivos e tentadores das cidades; 4) facilita a edificação do caráter; 5) oferece benefícios físicos, mentais e espirituais para todos os membros da família; 6) propicia cultivar os próprios alimentos; 7) possibilita estar em contato direto com as obras de Deus na natureza.
Em 1903, ela escreveu: “Deve-se sair das grandes cidades o mais depressa possível e adquirir um pedaço de terra, onde seja possível ter um jardim em que os filhos vejam as flores crescer e delas aprendam lições de simplicidade e pureza”. Esse parágrafo responde a questão levantada neste tópico, sugerindo que o tempo para sair das grandes cidades deve ser o mais depressa possível. Mas isso precisa ser claramente compreendido. Por isso, recomenda-se, para uma visão mais abrangente, a leitura do livro Vida no Campo ou do capítulo “Vida no campo”, de Eventos Finais, de autoria de Ellen White.
A mensagem para deixar as grandes cidades o mais depressa possível, como muitos outros conselhos de Ellen White, tinha como pano de fundo a convicção da iminência da volta de Cristo e um senso de urgência para a pregação do evangelho, que caracterizou os pioneiros adventistas. Mas a recomendação de mudança para o campo é apresentada com o reconhecimento de que alguns poderiam ter dificuldades para deixar tudo imediatamente; e, sem condená-los, ela indica qual deveria ser a conduta desses irmãos: “Mas até que seja possível sair, durante todo o tempo que permanecerem ali, devem ser muito ativos em fazer trabalho missionário, por mais limitada que seja sua esfera de influência”.
Análise individual
Ellen White apela para sair o quanto antes e, ao mesmo tempo, admite a existência de impedimentos circunstanciais aceitáveis. Deve-se observar, ainda, as recomendações para cuidadosa avaliação e planejamento envolvidos na mudança e o caráter pessoal dessa decisão. Na seção VII do livro Vida no Campo encontra-se uma carta que ela escreveu em 1892 em resposta à notícia recebida de que muitas famílias estavam se preparando para sair da cidade de Battle Creek, então sede do adventismo. Veja dois trechos:
Primeiro: “Vossa carta me diz, meu irmão, que há muitas pessoas que estão profundamente empolgadas no sentido de se mudarem de Battle Creek. Há necessidade, grande necessidade, de esse trabalho ser feito, e agora. Aqueles que têm consciência disto, finalmente, devem se mudar, mas não o façam às pressas, com excitação, de maneira precipitada ou de um modo em que, no futuro, se tenham de arrepender profundamente de se haverem mudado”.
Segundo: “Nada se faça de maneira desordenada, para que não haja grande perda ou sacrifício de propriedade, devido a discursos ardentes e impulsivos que despertam um entusiasmo que não é segundo a vontade de Deus; para que, por falta de equilibrada moderação, da devida reflexão, e de sãos princípios e propósitos, uma vitória que necessitava ser ganha se transforme em derrota”.
Mais um conselho precioso foi dado: “Pode haver indivíduos que façam tudo precipitadamente e entrem em algum negócio de que nada sabem. Deus não exige tal coisa. Pensai com simplicidade, de maneira piedosa, estudando a Palavra de Deus com todo cuidado e devoção, tendo o espírito e o coração despertos para ouvir a voz de Deus”.
Portanto, a decisão quanto ao tempo para sair das grandes cidades é uma resposta individual, resultante de comunhão pessoal com Deus, planejamento consciente e nunca da pressão de discursos acalorados e alarmistas.